quinta-feira, 23 de maio de 2013

Afinal… o que é macrofotografia?

Para aqueles que pouco ou nenhum contacto tiveram com a macrofotografia, a explicação que costumo utilizar é simples e fácil de compreender: "Macrofotografia é a modalidade fotográfica que procura retratar os detalhes do universo pequeno."

Contudo, para os que já conhecem esta ciência e praticam-na, a definição acima é demasiado superficial. Por isso é necessário especificar quais são os requisitos que diferenciam a macrofotografia de uma fotografia comum.

Entre os aspectos que abrangem os equipamentos fotográficos (óptica e o sensor) às dimensões do objecto fotografado, a questão mais importante e menos consensual diz respeito ao nível de magnificação obtido numa fotografia.

É precisamente neste contexto dos "limites das magnificação" que os aficionados da macrofotografia costumam debater em discussões intermináveis:

“Macro é exclusivamente quando o factor de ampliação é 1:1 ou superior…”
“Isso não é macro porque o assunto é muito grande…”
“Uma foto de uma flor nunca poderá ser uma macro…”
"Uma foto de uma libélula de corpo inteiro nunca poderá ser uma macro..."
“Macro é até 5:1, a partir daí é micro…”
“1:2 não é macro…”
" Foto com crop não é macro..."
Etc...

Já perdi a conta das vezes que expressei a minha opinião em fóruns e no facebook na tentativa de minimizar estas discussões desnecessárias e pouco produtivas. Contudo, como verifico que ainda persiste muita confusão à respeito do que define a macrofotografia, resolvi expor o meu ponto de vista de forma mais substanciada, principalmente no que concerne em revelar os parâmetros desta "ciência".

E se estamos à procura de definições para uma ciência, há que se encontrar o "responsável" pelo seu enunciado.

Por isso antes de responder à pergunta “o que é macrofotografia”, julgo que é importante perceber se já existiu ao longo da história da fotografia alguém que tenha sido o responsável pela criação da macrofotografia enquanto ciência, ou se o termo foi sendo apropriado e moldado conforme as necessidades de quem o pratica.

Em outras palavras, é preciso saber se houve na história da fotografia alguma pessoa, empresa ou instituição que tenha assumido de forma inequívoca a invenção do termo “macrofotografia” e, se tal aconteceu, tenha estabelecido normas e especificações que a regulamentasse.

Vamos efectuar uma pequena investigação à procura da paternidade da macrofotografia:

Dicionários


Comecemos pela definição dos dicionários.

Em Portugal, no site da Priberam não existem referências às palavras “macrofotografia”,  “macro-fotografia” ou “macro fotografia”.

Fiquemos então pela partícula “macro”: vem do grego makrós, -á, ón, significa “grande”, “longo”.

Ou seja, não há qualquer menção que atribua à palavra “macro” parâmetros ou condições de existência.

Já nos dicionários em inglês é possível encontrar o termo “macrophotography” com a seguinte definição: “extremely close-up photography in which the image on the film is as large as, or larger than, the object”.

No que confere aos dicionários de língua inglesa, a maioria das referências estabelece um único parâmetro: a imagem que se forma no “filme” (sensor nos dias de hoje) tem que ser igual ou maior que o objecto fotografado.

Todavia, não há nestes dicionários pistas que denunciem quem criou ou estabeleceu a parametrização de escala real/natural (1:1) como norma ou padrão para a macrofotografia.



Enciclopédias


Então passemos às enciclopédias da internet.

Seja em língua portuguesa como inglesa, a referência mais comum à respeito da macrofotografia é aquela que a define como um tipo de fotografia que capta um tema com dimensões iguais ou superiores aquela que se forma no filme ou sensor.

Citemos a Wikipédia: “Classicamente, o campo da macrofotografia está delimitado pela captura de imagens em escala natural ou aumentada em até cerca de dez vezes seu tamanho natural (entre 1:1 e 10:1 de ampliação), mas uma definição precisa está cada vez mais difícil, uma vez que as muitas câmaras digitais usam sensores diminutos. Por outro lado, muitas fotos são obtidas à distância, com o uso de teleobjetivas para captura da imagem, e nem por isso a foto capturada deixa de ser uma macrofotografia.”

Uma vez mais, seja em Portugal ou em outros países, não há nas enciclopédias uma explicação histórica ou científica para atribuir à macrofotografia alguém que tenha estipulado valores absolutos de escala de ampliação.


Raízes históricas


Há registos de fotografias macros desde o início do século XIX. Lentes de aumento à frente do que já eram as primeiras câmaras, forneciam a capacidade de magnificação suficiente para efectuar fotografias com temas em escala real (1:1).

Na mesma altura, já havia quem acoplasse câmaras fotográficas aos microscópios para fazer fotos de organismos invisíveis ao olho desarmado. Em 1839, John Benjamin Dancer, um oftalmologista britânico, produziu as primeiras fotografias com factor de ampliação de 160x com uma câmara acoplada a um microscópio.

No início do século XX, nos primórdios da chamada fotografia da natureza, Ansel Adams e os seus colegas do Sierra Club já faziam fotografias macros da flora e fauna com lentes de diversas origens. Algumas lentes eram concebidas e fabricadas especificamente para o "efeito macro" como objectivas ou, na maioria dos casos, adaptadas artesanalmente pelos próprios fotógrafos em tubos ou foles.

Porém, se alguém merece a alcunha de primeiro grande macrofotógrafo do mundo, este é Percy Smith. Nascido em Londres em 1880, foi em 1910, com uma câmara de filmar, que efectuou a gravação de imagens de uma mosca a fazer acrobacias que causaram um grande fascínio na altura.

Em 1928, o que seria a primeira câmara reflex de Franke & Heidecke Rolleiflex de médio formato TLR já dispunha de uma objetiva de 35mm com capacidade macro.

Mas foi em 1955 que Heinz Kilfitt da Kilfitt Makro-Kilar de Liechtenstein criou para a marca de câmaras Exakta uma objectiva de 35mm-f/3.5. É considerada a primeira objectiva efectivamente dedicada à macrofotografia 1:1.

Todavia, na história da fotografia, dos seus primórdios aos dias de hoje, não há um único registo que atribua à macrofotografia um enunciado pautado por regras e requisitos necessários à sua existência enquanto ciência.


Uma questão pragmática


Sem legados históricos e sem haver alguém a quem possamos imputar a alcunha de criador da macrofotografia enquanto ciência, resta encontrar uma explicação de carácter pragmático e comercial.

A explicação mais plausível para a anexação à macrofotografia do conceito de “imagem captada em escala real/natural 1:1” pode ser encontrada no mercado de equipamentos ópticos como os fabricantes de objectivas.

Estas empresas convergiram, de acordo com a demanda dos seus equipamentos, na criação e comércio de objectivas com valores específicos como 1:1, 1:2, 5:1, 10:1, etc.

Um dado "pitoresco" é que estes mesmos fabricantes não abdicaram de lançar para o mercado objectivas com a chancela "macro” estampada em lentes com valores de ampliação menores que o 1:1  como, por exemplo, 1:2, ou ainda com valores menos “redondos” como o 1:3.7.

Contudo, não havendo patentes de objectivas macros, que nada mais são que canudos com lentes de aumento no seu interior, a indústria de equipamentos fotográficos nunca pode estabelecer normas reguladoras que definissem a macrofotografia de forma oficial. O que fizeram foi apenas lançar padrões comerciais que variaram segundo as tendências do mercado consumidor.


Conclusão


A história da macrofotografia é tão antiga quanto a da própria fotografia e o surgimento de fotógrafos e de equipamentos dedicados à macrofotografia nunca foi formatado ou constrangido por regras ou especificações para além das convencionadas pela indústria de equipamentos fotográficos.

Portanto, a conclusão que se pode chegar é que sem um registo histórico e factual da existência da invenção da macrofotografia enquanto ciência, não se lhe pode atribuir um conjunto de regras delimitadoras com valores específicos apenas porque "achamos" que deve ser assim.


Por fim e não menos importante...


Como ando nestas lides há algum tempo, sinto-me à vontade para transmitir a seguinte mensagem aos que, como eu, “vivem” este fabuloso mundo da macrofotografia:

- Preocupem-se menos em rotular e definir limites.
- Evitem pontos de vistas intransigentes sobre algo que não tem bases históricas para classificar como norma estabelecida.
- Aceitem como definições da macrofotografia conceitos mais intrínsecos e generalistas como o da aproximação, ampliação e revelação de detalhes.
- Desdramatizem o assunto, utilizem apenas o bom senso.
- Dediquem-se ao que realmente importa: fotografar.


© Paulo Torck - Maio de 2013

P.S. Bom senso, entre muitas coisas, é compreender minimamente o que separa uma macrofotografia de uma fotografia comum, como se pode ver no exemplo abaixo.




quinta-feira, 9 de maio de 2013

Workshop que vou realizar no Centro Ciência Viva de Proença-a-Nova dia 25 de Maio

Roteiro da minha sessão:

Equipamento
Parâmetros da câmara
Luz
Execução
Edição
Composição
Noções de focus stacking



mais informações no site do Centro Ciência Viva da Floresta