No universo da
macrofotografia quem procura evidenciar a riqueza dos detalhes precisa de
nitidez como pão para a boca. A nitidez é fundamental para revelar os
pormenores que escapam ao olho desarmado. Vamos compreender melhor a sua
essência, bem como abordar técnicas e recursos que possibilitam obter
fotografias macros mais nítidas.
Detalhes da textura de uma vespa
Canon 60D e objetiva Canon MP-E 65mm
| ISO
100 | f/8 | 1/30” | 65mm | flash on | Stack 80 photos |
Em primeiro ligar convém
esclarecer que “nitidez” e “definição” são sinónimos. Utilizo o termo “nitidez”
por uma questão didática: para que não haja confusões com a palavra “resolução”.
A nitidez (ou definição) é utilizada para qualificar uma imagem segundo o seu
nível de detalhes. Já a resolução quantifica o número de pixels de uma imagem. Portanto, a título de exemplo, podemos estar
diante de uma foto com pouca resolução e muita definição e vice-versa.
Dito isso, passemos aos fatores que influenciam a nitidez de uma foto e o que podemos fazer para obter melhores resultados:
Estabilidade
Se já observou através de um
telescópio percebeu que qualquer vibração, por menor que seja, resulta numa
observação tremida. A realidade na fotografia macro é a mesma, qualquer tremor
é suficiente para retirar nitidez devido ao efeito de arrasto (motion blur). Para fotografias feitas
sem tripé, as técnicas de respiração utilizadas em práticas como tiro ao alvo e
arco e flecha são bem-vindas para uma maior firmeza no momento do disparo. A
forma como seguramos a câmara também pode ajudar numa maior estabilidade, por
exemplo, enquanto seguramos a câmara com as duas mãos, devemos recolher os
cotovelos para junto do tórax e assim obtermos do próprio tronco um tipo de
apoio. Pressionar o botão do obturador de forma delicada é igualmente
recomendado. Algumas câmaras e objetivas possuem sistemas de estabilização como
o IS da Canon e o VR da Nikon. Porém, movimentos muito bruscos tornam estes
equipamentos ineficazes. Por isso, sempre que possível, utilize um tripé para
fazer fotos macros, principalmente em situações com magnificações iguais ou
superiores a 1:1. Contudo, quanto maior for a magnificação, mais sensível será
a reação a pequenas oscilações, a tal ponto que até o próprio movimento do
espelho ou do mecanismo de obturação podem contribuir para um resultado indesejado.
A utilização do sistema de bloqueio do espelho existente na maioria das câmaras
DSLR é um recurso fortemente recomendado principalmente quando envolve
magnificações muito elevadas.
Na 2ª foto efeito de arrasto (motion blur)
provocado pela trepidação do fotógrafo
Canon 60D e objetiva Canon MP-E 65mm
| ISO
160 | f/10 | 1/2” | 65mm | flash on |
SEM TRIPÉ:
Apoie os cotovelos ao tronco para maior firmeza.
No momento do disparo sustenha a respiração no final do ciclo respiratório.
Mantenha-se assim até efectuar o disparo. O botão do disparador deve ser
carregado gentilmente, num movimento contínuo de pressão.
Movimento do
tema - seres vivos e o vento
Temos aqui o mesmo princípio do
tópico acima, mas com a particularidade de ser o "movimento do tema" o principal responsável
pela falta de estabilidade. Muitos macrofotógrafos dedicam grande parte dos
seus trabalhos aos seres vivos, o que implica trabalhar com temas não
estáticos. O problema agrava-se quando acrescentamos o “fator vento”. Um tema
captado com movimento apresentará à partida uma deficiência de nitidez causada
pelo efeito do arrasto. Mais adiante iremos ver como o flash pode atenuar ou
até eliminar o efeito do arrasto, mas por enquanto fiquemos pela procura do
momento certo, ou seja, o breve instante que um ser vivo permanece estático.
Cada ser vivo terá a sua peculiaridade em relação aos movimentos, sendo que o
macrofotógrafo deverá encontrar a respetiva forma de lidar com cada situação.
Por exemplo, uma abelha que esteja à coleta do pólen movimenta-se de flor em
flor sem deixar muitos intervalos propícios para o fotógrafo. Será melhor
esperar até que pouse e que se ocupe com a coleta do pólen. Portanto, advém do
conhecimento dos comportamentos dos seres vivos a solução para obtermos
melhores resultados em relação a falta de nitidez decorrente do efeito de
arrasto. Em relação aos espaços abertos, onde o vento é responsável pelo
balanço das folhas, flores e dos troncos onde estão pousados os animais, convém
esperar por um momento que sopre com menos intensidade ou procurar sítios mais
abrigados como clareiras e vales. Em alguns casos, alternativamente, podemos
utilizar acessórios como um braço articulado com uma pinça para agarrar e
estabilizar a folha, flor ou tronco.
Efeito de arrasto (motion blur)
provocado pelo movimento do tema
Canon 450D e objetiva Canon 60mm
| ISO
100 | f/16 | 1/80” | 60mm | flash on |
VENTO:
Exemplo de suporte para evitar a
trepidação causada pela acção do vento
Tempo de
exposição e o uso do flash para congelar o movimento
Nos tópicos anteriores referi os
problemas relativos aos movimentos do fotógrafo e do tema. Falemos agora de um
acessório que pode ajudar em ambos os casos. Sem flash, portanto a depender
apenas da luz ambiente, o efeito de arrasto pode ser atenuado com velocidades
mais rápidas de obturação. Para evitar utilizar valores ISO muito elevados, que
causariam mais grão e falta de nitidez, é preciso “injetar” mais luz ou
utilizar maiores aberturas do diafragma. Porém uma forma mais eficiente de
congelar os movimentos é com o uso do flash. O flash emite uma luz intensa por
uma fração de segundo imprimindo uma imagem “congelada” no sensor, mesmo que
utilizemos uma velocidade de obturação mais lenta. Entretanto, há que ter o
cuidado com o tempo de obturação de forma a evitar que a luz ambiente provoque
algum efeito residual de arrasto. Por isso esta técnica tanto será mais
eficiente quanto menos luz ambiente houver.
Foto ao fim do dia com a aranha a balançar na rede
foi
“congelada” com o flash a disparar a ¼ da sua
potência normal
Canon 60D e objetiva Canon 60mm
| ISO
400 | f/5.6 | 1/200” | 60mm | flash on |
FLASH:
Se as condições forem de movimento do tema ou do fotógrafo,
o uso do flash pode ajudar a congelar o momento
Foco
Enquanto as recém-lançadas light-field camera, também chamadas de plenoptic camera como a Lytro, que
“focam tudo” não são um standard, temos que conviver com o implacável “foco”.
Uma foto desfocada é uma foto sem nitidez. Antes de prosseguir, há que ter o
cuidado de não confundir “erro de foco” com “profundidade de campo reduzida”,
que apesar de apresentarem resultados similares, são coisas diferentes e devem
ser tratadas de forma específica. O foco é o ponto onde converge a luz e por
conseguinte a área de maior nitidez. Focar é apontar para a parte mais
importante do tema. Portanto, se queremos que a nitidez seja perfeita é
fundamental que o foco esteja no ponto exato. Todavia, em macros nem sempre é
fácil acertar com o foco no sítio pretendido. É comum haver condições adversas
como pouca luz e objetos de reduzidas dimensões. Recursos como uma luz auxiliar
(por exemplo uma lanterna), a utilização da “lupa” no live view ou uma ocular de magnificação para o view finder, podem ajudar no momento da execução da foto. Outro
fator que contribui para a imprecisão no foco está associado aos movimentos indesejados
no momento do disparo, por isso o tripé é um importante aliado.
Erro de foco: ficou abaixo do olho mais relevante
Canon 450D e objetiva Canon 60mm
| ISO
100 | f/8 | 1/80” | 60mm | flash on |
ACESSÓRIOS:
Se tem dificuldade em fazer o foco procure no mercado de acessórios
uma solução que o ajude como o Viewfinder Amplifier (foto acima)
ou o Magnifying Eyepiece que é basicamente o mesmo princípio
Ótica
A qualidade do sistema ótico
influi diretamente na nitidez. Quanto melhor for o equipamento ótico disponível,
tanto melhor será a definição. Entre os vários equipamentos óticos existentes
comercialmente ou adaptados, as objetivas dedicadas à macrofotografia
apresentam-se como a melhor solução para satisfazer uma necessidade exigente de
definição. As diferenças variam de marca para marca e até entre modelos, pelo
que é recomendado um estudo aprofundado antes de investir neste equipamento.
Sob este aspeto, o que realmente conta para a maior definição é a excelência
dos vidros, a quantidade destes no seu interior e o dimensionamento e design das lâminas do diafragma. Apesar
de ser indiscutível a superioridade das objetivas dedicadas à macro, é possível
chegar a resultados satisfatórios através de equipamentos como as objetivas não
macro equipadas com acessórios de magnificação (tubos de extensão, foles,
lentes e filtros de aumento, teleconversores, etc.) bem como objetivas
invertidas ligadas à câmara através de um adaptador ou colocadas à frente de
outra objetiva com o uso de um anel de ligação.
Foto rica em detalhes deve-se em boa parte à
qualidade da
objetiva dedicada a macro Canon MP-E 65mm
Canon 60D e objetiva Canon MP-E 65mm
| ISO
200 | f/13 | 1/80” | 65mm | flash on |
EQUIPAMENTO ÓTICO:
Antes de investir na compra de tubos de extensão, teleconversores
ou filtros de aumento como o raynox, pondere a aquisição de uma
objetiva dedicada à macrofotografia. Não só a qualidade é superior como a
usabilidade e praticidade serão fatores a considerar
Abertura
(difração da luz)
Todas as objetivas têm um sweet spot, a abertura numa determinada
distância focal onde desempenha a melhor performance em relação à nitidez. No
entanto, em macros é comum utilizarmos aberturas muito fechadas para se
conseguir uma maior profundidade de campo. Tais aberturas costumam ultrapassar
em muito o sweet spot ao ponto de
causarem a difração da luz e por consequência a perda de nitidez. A solução
está no “compromisso” com a profundidade de campo desejada face a uma perda da
definição em níveis aceitáveis. Ganha-se de um lado, perde-se do outro.
Deve-se procurar o equilíbrio entre a abertura
e a profundidade de campo para evitar a difração da
luz
Canon 60D e objetiva Canon 60mm
| ISO
100 | f/11 | 1/60” | 60mm | flash on |
SWEET SPOT:
De uma forma muito genérica, o sweet spot encontra-se nas aberturas entre f/8 e f/11
A abertura que apresenta a melhor definição de uma objetiva varia conforme a marca e modelo.
Procure no manual ou pela internet a informação respectiva à sua objetiva
Qualidade do sensor
As câmaras e os respetivos
sensores têm evoluído constantemente no poder de resolução (pixels), definição
(maior nitidez e ausência de ruídos em ISO elevado) e fidelidade (realismo das
cores e maior contraste na gama tonal). Não há qualquer dúvida que estaremos
melhor equipados para obter fotos mais nítidas quanto mais sofisticado for o
sensor e maior resolução houver. Todavia, um olhar pragmático sobre a realidade
dos equipamentos faz-nos concluir que este assunto tem um peso muito maior do
que realmente deveria ter. A diferença de qualidade não é tão discrepante
quando comparada com as câmaras ligeiramente mais antigas. No caso da
macrofotografia, nota-se mais a evolução na questão do ISO havendo nos modelos
mais novos uma melhor resposta no tratamento do excesso de ruído. Os muitos
“megapixels” dos novos sensores são igualmente bem-vindos ao universo macro.
Mas efetivamente será a ótica o fator predominante na obtenção de uma melhor
definição e é neste recurso que vale bem a pena o investimento uma vez que as
objetivas têm maior tempo de vida útil que os corpos das câmaras suscetíveis
aos avanços da tecnológica.
Sensores com muita resolução permitem realizar crops
mais
acentuados sem demasiada perda de qualidade
Canon 60D e objetiva Canon MP-E 65mm
| ISO
200 | f/16 | 1/60” | 65mm | flash on | Crop 50% |
MUITOS PIXELS:
A máxima serve para qualquer modalidade fotográfica:
"quanto mais pixels melhor". Mas não sobrevalorize o assunto,
corpos ligeiramente mais antigos, pouco ficam atrás dos atuais.
Pondere em investir em boas objetivas e terá seguramente um melhor investimento
Luz
A fonte de luz afeta a nitidez de
forma indireta quer pela “intensidade” como pelo “ângulo de incidência”. A
intensidade ou potência tem que ser suficiente para poder aplicar o menor ISO
possível. Já o ângulo de incidência da luz afetará a “perceção” da textura a
ponto de dar a sensação de maior ou menor nitidez. Assim, quanto maior for
investimento no “arsenal” de iluminação natural ou artificial, maior será a
capacidade de encontrar uma luz que resulte em maior nitidez real ou
percecionada.
Luz natural e difusa pode proporcionar uma perceção
diferente
da textura quando comparado com a luz direta de um
flash
Canon 60D e objetiva Canon MP-E 65mm
| ISO
400 | f/7.1 | 1/40” | 65mm | flash off |
LUZ:
Quanto maior for o "arsenal" de iluminação, maior será
a sua capacidade de moldar a luz ideal, seja através de uma iluminação
totalmente artificial, como para compor com a luz solar (luz de preenchimento)
Edição
A edição tem o peso definitivo.
Uma execução impecável, com as melhores técnicas e com o mais sofisticado
equipamento pode ter a nitidez arruinada por uma edição incompetente. Apesar de
não haver uma fórmula de edição padrão, podemos em termos gerais assinalar
alguns passos mais importantes como: a) cuidado na extração do ficheiro RAW
evitando perder qualidade na transposição para o JPEG; b) evitar alterações
radicais na compensação de luz e nos ajustes de contraste e saturação; c)
avaliar a necessidade de aplicar um filtro “sharp”
para melhor perceção de nitidez. Por fim e muito importante é ponderar a
reedição da versão de exibição, ou seja, o tratamento que devemos aplicar à
imagem face à dimensão e resolução pretendidas na sua publicação. Por exemplo,
se vamos expor a foto com o tamanho de 800 pixels, sendo que o original tem
5000 pixels, há que ter o cuidado na redução de forma a salvaguardar a sua
melhor definição. Quase todos os softwares de edição permitem escolher o método
de redimensionamento de uma imagem, bastando escolher aquela que é indicada para
o melhor nível de detalhes e no final avaliar se após o processo de redução
ainda deva ser aplicada uma nova dose do filtro “sharp”.
Uma boa edição deve eliminar tudo que não
contribui para a valorização da composição
Canon 60D e objetiva Canon MP-E 65mm
| ISO
250 | f/16 | 1/20” | 65mm | flash on |
EDIÇÃO:
Apesar de sofrer uma espécie de "pre-conceito" da parte de alguns fotógrafos,
que não gostam ou não dedicam muito tempo à edição, o facto é que um trabalho
potencialmente excelente pode ficar aquém do esperado se não houver uma edição cuidada
© Paulo Torck - Janeiro 2013