Longe está o dia de haver um consenso entre os fotógrafos em relação à manipulação da vida selvagem para fins fotográficos. O ponto central da discordância envolve principalmente assuntos do fórum ambiental e ético. No caso específico da macrofotografia com seres vivos, os debates gravitam em torno da manipulação dos animais e respectivos limites éticos.
Ética é um assunto que parece variar de acordo com os interesses de cada um. Por exemplo, Chris Palmer no livro Shooting in the Wild expõe de forma constrangedora os segredos de alguns documentários da TV que de vida selvagem pouco ou nada têm: sons inventados, lutas encenadas, animais em cativeiro mostrados como selvagens, etc. As razões para estas manipulações têm a ver com o facilidade e a economia de tempo e dinheiro na produção. Quando os responsáveis são confrontados com a “fraude” argumentam que conseguem assegurar melhor qualidade técnica e dramática… Nestes casos não restam dúvidas que a ética está a ser “torcida” para tentar de alguma forma legitimar trabalhos apresentados como realistas. Tais argumentos são uma afronta moral e comercial aos verdadeiros documentários que investiram tempo e recursos para obter um produto genuinamente natural.
Contudo, mais do que avaliar o valor de uma produção “encenada” ou “natural”, pretendo debater a questão ética: o "consumidor" do documentário está a ser enganado? Há que reconhecer que alguns documentários encenados colocam nos genéricos finais um disclaimer a informar que determinadas cenas foram manipuladas para um melhor resultado do ponto de vista do entretenimento. Ao meu ver esta atitude para além de irrelevante porque poucas pessoas prestam real atenção aos genéricos, também é inócua pois a “mentira” já foi contada e o expectador comeu gato por lebre.
Transpondo o mesmo tipo de questão ética para a macrofotografia, podemos igualmente discutir se uma foto encenada ou manipulada constitui uma espécie de mentira contada ao "consumidor", ao expectador. Tenho por opinião que a resposta pode ser sim ou não dependendo do âmbito onde é exibida e como é rotulada pelo autor. A macrofotografia é apenas uma técnica fotográfica e pode estar ou não estar associada à chamada “fotografia da natureza”, onde, segundo o senso comum, o fotógrafo não deve intervir na execução de uma foto. "Ser uma macrofotografia” não confere de forma automática à foto a classificação de projecto documental ou artístico. É necessário que o autor defina um objectivo, expresso ou implícito, e o meio de distribuição adequado. O fotógrafo quando expõe a sua foto num ambiente que não corresponde ao princípio subjacente do seu trabalho precisa evidenciar de forma inequívoca o âmbito que o projecto está inserido.
Em termos práticos, no contexto da "fotografia da natureza", devemos evitar a publicação de uma foto encenada ou manipulada num site ou fórum cujas regras proíbam tais procedimentos. Havendo situações menos claras, é de bom tom que a foto seja apresentada com a ressalva do autor. Por outro lado, mudando para o âmbito da "fotografia estética ou artística", as fotos publicadas em sites ou fóruns que não especifiquem regras contra encenações ou manipulações, não devem ser julgadas por critérios que nunca foram estabelecidos.
© Paulo Torck
Agosto/2012